E, pela primeira vez, espera-se que a adaptação ? historicamente negligenciada e subfinanciada ? conquiste espaço de protagonismo, com a definição de metas globais, indicadores mensuráveis e compromissos mais ambiciosos.
Desde que o planeta ultrapassou o limiar de 1°C de aquecimento, os sinais da crise climática tornaram-se impossíveis de ignorar. Secas severas, enchentes recordes, ondas de calor cada vez mais longas e o colapso de sistemas naturais e urbanos revelam uma verdade incômoda: já não basta apenas prevenir; é preciso também aprender a conviver, de forma resiliente, com os impactos inevitáveis.
Nesse cenário, a COP30 — que será realizada em Belém, no Pará, entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025 — assume um papel decisivo. O encontro deverá impulsionar avanços em duas frentes complementares: a mitigação e a adaptação climática. E, pela primeira vez, espera-se que a adaptação — historicamente negligenciada e subfinanciada — conquiste espaço de protagonismo, com a definição de metas globais, indicadores mensuráveis e compromissos mais ambiciosos.
Mitigação e adaptação são, de fato, as duas faces de uma mesma moeda. A mitigação envolve ações que reduzem ou evitam emissões de gases de efeito estufa, ou que aumentam sua absorção, como a restauração de florestas e o uso de energias renováveis. Já a adaptação refere-se ao conjunto de medidas que permitem que sociedades e ecossistemas se ajustem aos impactos já em curso ou previstos do aquecimento global — como secas, elevação do nível do mar e eventos extremos. Enquanto a mitigação atua sobre as causas, a adaptação enfrenta os efeitos, e juntas formam a base de qualquer resposta consistente à crise climática.
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Durante as últimas Conferências das Partes (COPs), as negociações estiveram concentradas quase exclusivamente na mitigação. O corte de emissões foi tratado como prioridade absoluta, enquanto a adaptação permaneceu em segundo plano. Agora, em Belém, esse panorama pode mudar. Um dos principais temas em debate será a Meta Global de Adaptação (GGA, na sigla em inglês), criada no âmbito do Acordo de Paris, que propõe até cem indicadores para medir o progresso das políticas de adaptação nos países.
Esses indicadores deverão ser estruturados de forma flexível, para que cada nação possa reportar seu desempenho conforme suas capacidades técnicas e condições locais. A expectativa é que também incluam meios de implementação — isto é, recursos financeiros, tecnológicos e institucionais efetivamente mobilizados para viabilizar a adaptação. Esse ponto, contudo, tende a gerar fortes tensões políticas, já que envolve responsabilidades e repasses de fundos internacionais.
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Os desafios são muitos. O financiamento climático continua desbalanceado: a maior parte dos recursos ainda é destinada à mitigação, o que dificulta a criação de projetos resilientes, sobretudo em países com menor infraestrutura. Além disso, persistem desigualdades profundas enquanto algumas nações possuem sistemas avançados de monitoramento e resposta, outras enfrentam limitações técnicas e orçamentárias severas.
A complexidade política também pesa: questões como “quem paga” e “quem entrega” frequentemente servem de moeda de troca nas negociações, atrasando decisões técnicas urgentes. Outro obstáculo é o da governança local. Adaptar-se às mudanças climáticas exige ação territorializada, capaz de integrar diferentes setores — como planejamento urbano, recursos hídricos, saúde e agricultura — e envolver comunidades diretamente afetadas. Nesse sentido, a inclusão social e a justiça climática tornam-se indispensáveis. Povos indígenas, comunidades tradicionais e populações periféricas estão entre os mais vulneráveis aos impactos da crise, e sua participação nas decisões e nos mecanismos de adaptação precisa ser garantida.
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Como país-sede da COP30, o Brasil ocupa posição estratégica. O novo Plano Clima, em formulação, já prevê metas de mitigação e adaptação até 2035. Espera-se que o país use sua influência para impulsionar o avanço da agenda global de adaptação e atrair recursos internacionais para ações estruturais, especialmente na Amazônia — bioma essencial para o equilíbrio climático do planeta. No entanto, há contradições: o país ainda projeta aumento na produção de combustíveis fósseis, o que levanta dúvidas sobre a coerência de suas políticas.
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Fotos: Reprodução/Google
No fim, o que está em jogo vai muito além de acordos diplomáticos. Se a COP30 conseguir aprovar indicadores robustos e mecanismos claros de financiamento, o mundo poderá dar um passo histórico rumo a uma resposta concreta à crise climática — não apenas promessas, mas resultados verificáveis. Caso contrário, a inércia e as disputas políticas continuarão deixando milhões de pessoas expostas a secas, cheias e tragédias climáticas cada vez mais intensas. A COP30 pode marcar uma virada na história da humanidade ou se tornar mais uma oportunidade perdida diante do colapso anunciado.
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