12 de Julho de 2025

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Especial Mulher - 30/06/2025

PARINTINS ALÉM DA FESTA: Estigma e o grito por Dignidade Feminina na Amazônia

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Foto: Reprodução/Google

O evento atrai dezenas de milhares de visitantes, reforçando o orgulho regional e impulsionando o turismo cultural

*Por Maria Santana Souza e *Carla Martins - Todo segundo fim de semana de junho, Parintins, no Amazonas, ganha vida com o Festival dos Bois-Bumbás – Caprichoso (azul) e Garantido (vermelho) – em celebração à cultura folclórica e ancestral da região. O evento atrai dezenas de milhares de visitantes, reforçando o orgulho regional e impulsionando o turismo cultural.

 

Mas nesse cenário festivo também floresce um desafio sério de saúde pública: o aumento temporário das DSTs, provocado pelas aglomerações e comportamento menos preventivo dos foliões. Em 2021, foi registrado em Parintins uma taxa de detecção de HIV de 32,6 novos casos por 100 mil habitantes. A população estimada é de 115 mil. Já Manaus, com cerca de 2,2 milhões de habitantes, apresenta índices significativamente mais elevados de DSTs, especialmente entre homens e mulheres de 20 a 29 anos, segundo boletins da SES/AM.

 

Apesar da diferença populacional, a prevalência proporcional de infecções sexualmente transmissíveis permanece preocupante em ambas as cidades, reforçando a necessidade de ações preventivas contínuas. Durante o Festival de Parintins, ações coordenadas pelo Ministério da Saúde, SUS e prefeitura local incluem testagens rápidas para HIV, distribuição gratuita de preservativos e divulgação da estratégia de “prevenção combinada”, que integra o uso da camisinha com a PrEP (profilaxia pré-exposição). Apesar de 87% da população reconhecer a importância do preservativo, metade ainda não o utiliza em todas as relações. Desde 2022, Parintins também oferece PrEP, integrando-se à política estadual que já beneficia mais de dois mil usuários no Amazonas.

 

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Sexualidade e estigmas: o peso do olhar externo

 

 

As manifestações culturais durante o Festival de Parintins oferecem um ambiente legítimo de celebração da identidade amazônica e da liberdade de expressão feminina. No entanto, essa liberdade ainda é, muitas vezes, interpretada de forma distorcida por olhares externos, especialmente de outras regiões do Brasil e do mundo. Persiste o preconceito de que as mulheres do Amazonas são “fáceis” ou inclinadas à promiscuidade, uma percepção que desconsidera as desigualdades históricas e estruturais que afetam essas populações.

 


É fato que, em algumas comunidades, mulheres recorrem à prostituição como meio de sobrevivência — não por escolha livre, mas por falta de oportunidades, de apoio e de políticas públicas eficazes. Muitas não compreendem seu próprio valor, não por ausência de dignidade, mas por um sistema que falhou em garantir condições para que desenvolvessem autonomia e autoestima. Esse contexto alimenta o estigma, e reforça uma imagem hipersexualizada e desumanizante da mulher amazônida.

 

 

 

Nesse cenário, figuras públicas como Isabelle Nogueira ganham importância. Ao participar do BBB Brasil, Isabelle mostrou ao país que é possível ser mulher no Amazonas com orgulho, autenticidade e profissionalismo. Representando uma geração que valoriza suas raízes e constrói sua trajetória com dignidade, ela rompeu estereótipos e reafirmou que as mulheres da região têm o direito de liderar, criar e transformar suas próprias histórias.

 

 

Foi com base nesse contexto que Maria Santana, mulher amazônida, fundou o Instituto Fundação Mulher Amazônica — um verdadeiro pilar de suporte para mulheres em situação de vulnerabilidade. Sob sua presidência, o Instituto busca implantar uma rede de atendimento contínuo em Manaus, além de promover ações itinerantes em comunidades ribeirinhas de difícil acesso. A proposta é promover autonomia, dignidade e direitos para mulheres vítimas de violência, adolescentes em risco social, mulheres negras, indígenas, ribeirinhas, chefes de família e aquelas em situação de pobreza extrema.

 

 

A urgência dessa atuação é evidenciada por dados alarmantes: o Amazonas tem uma taxa de feminicídio de 4,3 por 100 mil mulheres, acima da média nacional; são mais de 10 mil casos anuais de violência doméstica em Manaus; o analfabetismo entre mulheres ribeirinhas chega a 18,9%; e 80% dos municípios só são acessíveis por via fluvial ou aérea. Como agravante, há apenas três delegacias da mulher em todo o estado.
Em parceria com os governos federal e estadual, o Instituto buscará integrar ações nas áreas de saúde, educação, justiça e segurança, criando um ecossistema de apoio duradouro e eficaz.

 

Vozes amplificadas: Portal Mulher Amazônica e Ela Podcast

 

 

Além do Instituto, Maria Santana também é idealizadora do Portal Mulher Amazônica e do Ela Podcast, dois projetos que se consolidaram como ferramentas essenciais para amplificar as vozes femininas da floresta. Nessas plataformas, mulheres compartilham histórias de superação, resistência, empreendedorismo e liderança, mostrando que mesmo em meio à vulnerabilidade, seguem firmes como inspiração para outras meninas e mulheres da região.

 

 

 

“Nosso trabalho nasceu da escuta, da convivência e do amor pelas mulheres amazônidas. Sabemos que não basta celebrar a cultura, é preciso proteger quem a mantém viva. O Festival de Parintins é uma vitrine para a força da mulher da floresta, mas também um alerta sobre o quanto ainda precisamos avançar. O Instituto, o Portal e o Podcast são ferramentas de transformação — instrumentos para que as nossas vozes deixem de ecoar apenas na resistência e passem a ocupar também os espaços de decisão. Não aceitaremos que nos reduzam a estereótipos. Queremos políticas públicas eficazes, acesso à saúde, educação e segurança. A mulher amazônica é potência, identidade e futuro”, declarou Maria Santana.
A jornalista Carla Martins, integrante da equipe do Portal Mulher Amazônica, produtora do Ela Podcast e coordenadora de projetos do Instituto Fundação Mulher Amazônica, salienta a importância de dar voz às mulheres da região:

 

 

 

“Nosso papel como comunicadoras vai muito além de informar. Estamos aqui para revelar histórias que, por muito tempo, foram silenciadas. Durante o Festival de Parintins, ouvimos relatos profundos de mulheres que encontram na cultura e na arte uma forma legítima de afirmação e liberdade. Mas também escutamos vozes que carregam marcas de abandono, violência e invisibilidade. É por essas mulheres que existimos: para romper o silêncio, para afirmar que ser mulher na Amazônia é um ato de coragem diário — e essa coragem precisa ser acolhida por políticas públicas reais, que enxerguem a nossa dignidade, a nossa história e o nosso potencial”, enfatiza Carla Martins.


Por uma Amazônia mais justa e humana

 

 

 

Concluir a construção de uma Amazônia mais justa e humana exige mais do que ações isoladas — requer parcerias verdadeiras, sensíveis e comprometidas com a transformação social. É por meio da união entre instituições locais, poder público, sociedade civil e iniciativas de comunicação que podemos romper o ciclo de invisibilidade e desigualdade que ainda marca a vida de tantas mulheres da floresta.

 

 

O Festival de Parintins nos oferece, ano após ano, um espetáculo de cores, sons e identidade. Mas é preciso que, além de celebrar, olhemos com responsabilidade para quem sustenta essa cultura com o próprio corpo, história e resistência.

 

 

 

Construir essa nova narrativa é também mudar os olhares do Brasil e do mundo sobre a Amazônia — não apenas como um território de riquezas naturais, mas como um lar de seres humanos plenos, complexos e dignos. Que as lentes do exterior e dos grandes centros enxerguem, enfim, não só a beleza exótica da floresta, mas a força das mulheres que nela vivem, amam, lutam e sonham. Uma Amazônia melhor se faz com respeito, cuidado e presença — e com cada parceria firmada em empatia e ação, damos mais um passo rumo a essa construção coletiva e necessária.

 

Fotos: Reprodução

 

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**Matéria assinada por:


Maria Santana  SouzaJornalista Idealizadora do Portal Mulher Amazônica, Ela Podcast, Fundadora e presidente do Instituto Fundação Mulher Amazônica.
Carla Martins — Jornalista e integrante do Portal Mulher Amazônica e Ela Podcast 

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